Nos últimos meses, a popularização de doces artesanais vendidos nas ruas e nas redes sociais tem gerado não apenas filas de consumidores curiosos, mas também um aumento expressivo no número de atendimentos odontológicos de emergência. A explosão de vendas de certas guloseimas chama atenção não só pelo sabor exageradamente doce, mas também pelas consequências inesperadas à saúde. Em clínicas de Santos, no litoral paulista, dentistas têm relatado casos crescentes de fraturas dentárias, algo até então incomum em pacientes jovens e sem histórico de problemas bucais.
O que parece inofensivo à primeira vista pode esconder armadilhas difíceis de prever. A consistência excessivamente rígida de alguns desses doces é uma das principais causas apontadas pelos profissionais como fator de risco. Muitos consumidores não conseguem distinguir, antes da primeira mordida, que estão diante de uma estrutura compacta e dura o suficiente para causar trincas no esmalte dos dentes ou até fraturas mais severas. Essa situação vem exigindo intervenções de urgência, inclusive com necessidade de reconstruções e, em casos mais graves, implantes.
Dentistas da região afirmam que os pacientes costumam chegar com dor intensa e surpresos com o dano sofrido. O consumo aparentemente inocente se transforma em um transtorno significativo, que envolve gastos com tratamento, tempo de recuperação e limitações na alimentação. O problema é agravado pelo fato de que muitos desses doces são feitos sem qualquer tipo de controle técnico, seja na proporção de açúcar, seja na densidade dos ingredientes utilizados. O resultado são produtos bonitos, mas perigosos.
Outro ponto crítico apontado por especialistas é o impacto desses doces na integridade dos dentes já comprometidos por restaurações antigas ou cáries não tratadas. Nesses casos, a exposição a substâncias muito duras ou açucaradas atua como catalisadora de problemas já existentes, acelerando o desgaste e tornando inevitável a busca por auxílio clínico. O número de pacientes relatando que o problema surgiu após consumir doces populares demonstra que a situação pode ser mais comum do que se imagina.
Além das fraturas, há um alerta importante sobre a concentração de açúcar presente nesses doces. Profissionais de saúde bucal reforçam que o consumo frequente desse tipo de alimento contribui de forma expressiva para a proliferação de bactérias causadoras de cáries. A junção entre textura rígida e excesso de glicose representa um cenário ideal para prejuízos irreversíveis aos dentes. Os especialistas destacam a importância da higiene bucal redobrada após o consumo e, sempre que possível, a substituição por opções menos agressivas.
A cultura das redes sociais, que transforma rapidamente qualquer novidade em tendência, também tem sua parcela de responsabilidade. O compartilhamento de vídeos com reações exageradas de pessoas provando o doce contribui para a falsa ideia de que se trata apenas de uma experiência divertida. O apelo visual e a viralização em plataformas digitais criam um ciclo em que o produto se espalha sem que seus efeitos colaterais sejam discutidos. A estética das publicações muitas vezes omite o que acontece depois da primeira mordida.
O apelo comercial por trás desse tipo de produto também precisa ser revisto. Muitos vendedores enxergam uma oportunidade rápida de lucro, mas ignoram completamente os riscos envolvidos. A ausência de informações sobre os ingredientes, o modo de preparo e as advertências de consumo reforçam o problema. Para os profissionais da odontologia, seria essencial que campanhas de conscientização fossem criadas para informar a população, principalmente os mais jovens, que são os principais consumidores desses doces.
Diante dos relatos crescentes de fraturas dentárias causadas por doces muito duros e cheios de açúcar, especialistas reforçam a importância de maior cuidado e informação. O consumo desenfreado de produtos da moda, sem avaliação prévia dos riscos, pode levar a danos permanentes à saúde bucal. A recomendação é que as pessoas observem não apenas a aparência e o sabor, mas principalmente os impactos que algo aparentemente simples pode gerar em sua qualidade de vida.
Autor : Usman Inarkaevich