A odontologia brasileira é reconhecida internacionalmente por sua excelência técnica, inovação e qualidade acadêmica. O país conta com algumas das melhores universidades da área, responsáveis por formar profissionais de alto nível que atuam tanto no Brasil quanto no exterior. A constante atualização científica, a adoção de novas tecnologias e o investimento em pesquisa colocam o setor odontológico nacional entre os mais avançados do mundo. Apesar dessa posição de destaque, a realidade do acesso à saúde bucal no território brasileiro ainda apresenta desigualdades preocupantes, especialmente entre as populações mais vulneráveis.
Embora clínicas particulares de odontologia ofereçam serviços de ponta com equipamentos modernos e profissionais especializados, grande parte da população depende exclusivamente do atendimento público. O Sistema Único de Saúde contempla a atenção básica em odontologia, mas a demanda elevada e os recursos limitados dificultam a cobertura ampla e eficaz. Em muitas regiões do país, especialmente nas áreas rurais e periferias urbanas, a oferta de serviços odontológicos é escassa, o que compromete o diagnóstico precoce e o tratamento adequado de diversas doenças bucais.
Um dos fatores que agravam a situação é a distribuição desigual dos profissionais da área. A maioria dos dentistas está concentrada nas grandes capitais, onde há mais oportunidades de trabalho e maior infraestrutura. Em contrapartida, pequenas cidades e comunidades afastadas enfrentam a escassez de profissionais, o que gera longas filas de espera e dificulta o acesso regular a cuidados preventivos. Essa disparidade impacta diretamente na qualidade de vida dos cidadãos, já que a saúde bucal está intimamente ligada à saúde geral.
Além da dificuldade de acesso físico, o custo dos tratamentos odontológicos também é uma barreira para grande parte da população. Procedimentos como implantes, ortodontia e tratamentos estéticos costumam ter preços elevados e não são cobertos pelo serviço público. Isso limita a busca por esses serviços à parcela da população com maior poder aquisitivo, acentuando ainda mais as desigualdades sociais em saúde. Mesmo serviços mais simples, como restaurações ou extrações, podem ser inacessíveis para famílias de baixa renda em determinadas regiões do país.
É importante destacar que, apesar das barreiras existentes, o Brasil desenvolve importantes programas de promoção e prevenção em saúde bucal. A ampliação da Estratégia Saúde da Família e a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde têm contribuído para melhorar o alcance das ações básicas. Campanhas de conscientização, como a escovação supervisionada em escolas e a distribuição de kits de higiene bucal, têm resultados positivos, especialmente entre crianças. No entanto, essas ações ainda não são suficientes para atender a demanda em sua totalidade.
A formação acadêmica no país também é um ponto forte que sustenta a posição de destaque da odontologia brasileira. As faculdades de odontologia estão entre as melhores do mundo, e muitos profissionais formados no Brasil são reconhecidos internacionalmente. A forte base teórica e prática, aliada à pesquisa científica constante, permite que o país lidere inovações em diversas especialidades da área. No entanto, esse avanço acadêmico ainda não se reflete de maneira uniforme no sistema público de saúde, onde faltam insumos, infraestrutura e políticas de incentivo à fixação de profissionais em áreas remotas.
Para superar os desafios do acesso, é fundamental repensar políticas públicas que ampliem a cobertura e a qualidade do atendimento odontológico. Incentivos para a interiorização dos profissionais, melhorias na remuneração e condições de trabalho no setor público, além de parcerias com instituições privadas e organizações da sociedade civil, podem fazer a diferença. A implementação de tecnologias como a teleodontologia também surge como uma alternativa promissora para alcançar regiões isoladas e oferecer suporte técnico a profissionais locais.
O cenário brasileiro evidencia uma contradição marcante: enquanto o país se destaca pela excelência técnica e formação profissional na área, milhões de pessoas ainda enfrentam barreiras significativas para receber cuidados odontológicos básicos. Romper com essa desigualdade exige compromisso político, investimento estratégico e ações integradas. Somente assim será possível transformar o reconhecimento internacional em benefício concreto para toda a população.
Autor : Usman Inarkaevich